Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/280

Wikisource, a biblioteca livre

— E ela?

O padre Amaro fez uma visagem descontente:

— Não disse que sim nem que não. Pôs-se a fazer biquinho, a choramingar. É verdade que estava muito alterada com a morte em casa. Que a rapariga não morre por ele, isso é claro; mas quer casar, tem medo que a mãe morra, que se veja só... Enfim sabe o que são raparigas! Que as minhas palavras fizeram-lhe efeito, ficou muito indignada, etc. ... Mas enfim, eu pensei que o melhor era a senhora falar-lhe. A senhora é a amiga da casa, é madrinha, conheceu-a de pequena... Estou certo que no seu testamento havia de lhe deixar uma boa lembrança... Tudo isto são considerações...

— Ai, fica por minha conta, senhor pároco, exclamou a velha, hei- de-lhas contar!

— A rapariga o que precisa é quem a dirija. Aqui para nós, precisa quem a confesse! Ela confessa-se ao padre Silvério; mas, sem querer dizer mal, o padre Silvério, coitado, pouco vale. Muito caridoso, muita virtude; mas o que se chama jeito, não tem. Para ele a confissão é a desobriga. Pergunta doutrina, depois faz o exame pelos mandamentos da lei de Deus... Veja a senhora!... Está claro que a rapariga não furta, nem mata, nem deseja a mulher do seu próximo! A confissão assim não lhe aproveita: o que ela precisa é um confessor teso, que lhe diga - para ali! e sem réplica. A rapariga é um espírito fraco; como a maior parte das mulheres não se sabe dirigir por si; necessita por isso um confessor que a governe com uma vara de ferro, a quem ela obedeça, a quem conte tudo, a quem tenha medo... É como deve ser um confessor.

— O senhor pároco é que lhe servia...