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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/298

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contente em se refugiar, como um cão escorraçado, entre as pernas daquele colosso!

O doutor Godinho descera já ao escritório, e repoltreado na sua poltrona abacial de pregos amarelos, com os olhos no teto de carvalho escuro, acabava com beatitude o charuto do almoço. Recebeu com majestade os "bons-dias" de João Eduardo.

— E então que temos, amigo?

As altas estantes de in-fólios graves, as resmas de autos, o aparatoso painel representando o marquês de Pombal, de pé num terraço sobre o Tejo, expulsando com o dedo a esquadra inglesa - acanharam como sempre João Eduardo; e foi com voz embaraçada que disse vinha ali para que sua excelência lhe desse remédio numa desgraça que lhe sucedia.

— Desordens, bordoada?

— Não, senhor, negócios de família.

Contou então, prolixamente, a sua história desde a publicação do Comunicado; leu, muito comovido, a carta de Amélia; descreveu a cena ao pé do Arco... Ali estava agora, escorraçado da Rua da Misericórdia por obras do senhor pároco! E parecia-lhe a ele, apesar de não ser formado em Coimbra, que contra um padre que se introduzia numa família, desinquietava uma menina simples, levava por intrigas a romper com o noivo e ficava de portas adentro senhor dela - devia haver leis!

— Eu não sei, senhor doutor, mas deve haver leis!

O doutor Godinho parecia contrariado.

— Leis! exclamou traçando vivamente a perna. Que leis quer você que haja? Quer querelar