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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/326

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— E assinaste? perguntou Gustavo, espantado da revelação.

— O doutor Godinho não quis, disse o escrevente corando um pouco.

— E deste-lhes uma desanda, hem?

— A todos, de rachar!

O tipógrafo, entusiasmado, berrou por "outra de tinto"!

Encheu os copos com transporte, bebeu uma grande saúde a João Eduardo.

— Caramba, quero ver isso! Quero mandá-lo à rapaziada em Lisboa!... E que efeito fez?

— Um escândalo, mestre.

— E os padrecas?

— Em brasa!

— Mas como souberam que eras tu?

João Eduardo encolheu os ombros. O Agostinho não o dissera. Desconfiava da mulher do Godinho, que o sabia pelo marido, e que o fora meter no bico do padre Silvério, seu confessor, o padre Silvério da Rua das Teresas...

— Um gordo, que parece hidrópico?

— Sim.

— Que besta! rugiu o tipógrafo com rancor.

Olhava agora João Eduardo com respeito, aquele João Eduardo que se lhe revelara inesperadamente um paladino do livre pensamento.

— Bebe, amigo, bebe! dizia-lhe, enchendo-lhe o copo com afeto, como se aquele esforço heróico de liberalismo necessitasse ainda, depois de tantos dias, reconfortos excepcionais.

E que se tinha passado? Que tinha dito a gente da Rua da Misericórdia?

Tanto interesse comoveu João Eduardo: e dum