Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/338

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da banda da sacristia, o padre Silvério e o padre Amaro, conversando, devagar.

Batia então um quarto na torre, e o padre Silvério parou a acertar o seu cebolão. Depois os dois padres observaram maliciosamente a janela da administração de vidraças abertas, onde se via, no escuro, o vulto do senhor administrador de binóculo cravado para a casa do Teles alfaiate. E desceram enfim a escadaria da Sé, rindo de ombro a ombro, divertidos com aquela paixão que escandalizava Leiria.

Foi então que o pároco viu João Eduardo que estacara no meio do largo. Parou para voltar à Sé decerto, evitar o encontro; mas viu o portão fechado, e ia seguir de olhos baixos, ao lado do bom Silvério que tirava tranquilamente a sua caixa de rapé, - quando João Eduardo, arremessando-se, sem uma palavra, atirou a toda a força um murro no ombro de Amaro.

O pároco, aturdido, ergueu frouxamente o guarda-chuva.

— Acudam! berrou logo o padre Silvério, recuando de braços no ar. Acudam!

Da porta da administração um homem correu, agarrou furiosamente o escrevente pela gola:

— Está preso! rugia. Está preso!

— Acudam, acudam! berrava Silvério a distância.

Janelas no largo abriam-se à pressa. A Amparo da botica, em saia branca, apareceu à varanda, espavorida; o Carlos precipitara-se do laboratório em chinelas; e o senhor administrador, debruçado na sacada, bracejava, com o binóculo na mão.

Enfim o escrivão da administração, o Domingos,