Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/339

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compareceu, muito grave, de mangas de lustrina enfiadas; e com o cabo de polícia levou logo para a administração o escrevente, que não resistia, todo pálido...

O Carlos, esse, apressou-se a conduzir o senhor pároco para a botica; fez preparar, com estrépito, flor de laranja e éter; gritou pela esposa, para arranjar uma cama... Queria examinar o ombro de sua senhoria: haveria intumescência?

— Obrigado, não é nada, dizia o pároco muito branco. Não é nada. Foi um raspão. Basta-me uma gota de água...

Mas a Amparo achava melhor um cálice de vinho do Porto; e correu acima a buscar-lho, tropeçando nos pequenos que se lhe despenduravam das saias, dando ais, explicando pela escada à criada que tinham querido matar o senhor pároco!

À porta da botica juntara-se gente, que embasbacava para dentro; um dos carpinteiros que trabalhavam nas obras afirmava que "fora uma facada"; e uma velha por trás debatia-se, de pescoço esticado, para ver o sangue. Enfim, a pedido do pároco, que receava escândalo, o Carlos veio majestosamente declarar que não queria motim à porta! O senhor pároco estava melhor. Fora apenas um soco, um raspão de mão... Ele respondia por sua senhoria.

E como o burro ao lado começara a ornear, o farmacêutico voltando- se indignado para o rapazito que o segurava pela arreata:

— E tu não tens vergonha, no meio dum desgosto destes, um desgosto para toda a cidade, de ficar aqui com esse animal, que não faz senão zurrar? Para longe, insolente, para longe!