Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/340

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Aconselhou então os dois sacerdotes a que subissem para a sala, para evitar a "curiosidade da populaça". E a boa Amparo apareceu logo com dois cálices do Porto, um para o senhor pároco, outro para o Sr. padre Silvério que se deixara cair a um canto do canapé apavorado ainda, extenuado de emoção.

— Tenho cinquenta e cinco anos, disse ele depois de ter chupado a última gota de Porto, e é a primeira vez que me vejo num barulho!

O padre Amaro, mais sossegado agora, afetando bravura, chasqueou o padre Silvério:

— Você tomou o caso muito ao trágico, colega... E lá ser a primeira, vamos lá... Todos sabem que o colega esteve pegado com o Natário...

— Ah, sim, exclamou o Silvério, mas isso era entre sacerdotes, amigo!

Mas a Amparo, ainda muito trêmula, enchendo outro cálice ao senhor pároco, quis saber "os particulares, todos os particulares..."

— Não há particulares, minha senhora, eu vinha aqui com o colega... Vínhamos cavaqueando... O homem chegou-se a mim, e, como eu estava desprevenido, deu-me um raspão no ombro.

— Mas por quê, por quê? exclamou a boa senhora, apertando as mãos, num assombro.

O Carlos então deu a sua opinião. Ainda havia dias, ele dissera, diante da Amparozinho e de D. Josefa, a irmã do respeitável cônego Dias, que estas idéias de materialismo e ateísmo estavam levando a mocidade aos mais perniciosos excessos... E mal sabia ele então que estava profetizando!