Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/345

Wikisource, a biblioteca livre

maçada tem sido esta aqui, todo o dia! A repartição fecha-se às três!

E sua excelência, rodando, sobre os tacões, foi debruçar-se à sacada do seu gabinete - àquela sacada de onde ele diariamente, das onze às três, retorcendo o bigode louro e entesando o plastrão azul, depravava a mulher do Teles.

O Carlos abria já o batente verde, quanto um pst do Domingos o deteve.

— Ó amigo Carlos .- e o sorrisinho do escrivão tinha uma suplicação tocante - desculpe, hem? Mas... Traz-me de lá uma caixita de fósforos?

Neste momento à porta aparecia o padre Amaro; e por trás a massa enorme do Silvério.

— Eu desejava falar ao senhor administrador em particular, disse Amaro.

Todos os empregados se ergueram; João Eduardo também, branco como a cal do muro. O pároco, com as sua passadas sutis de eclesiástico, atravessou a repartição, seguido do bom Silvério que ao passar diante do escrevente descreveu de esguelha um semicírculo cauteloso, com terror ao réu; o senhor administrador acudira a receber suas senhorias; e a porta do gabinete fechou-se discretamente.

— Temos composição, rosnou o experiente Domingos, piscando o olho aos colegas.

O Carlos sentara-se descontente. Viera ali para esclarecer a autoridade sobre os perigos sociais que ameaçavam Leiria, o Distrito e a Sociedade, para ter o seu papel naquele processo, que, segundo ele, era um processo político - e ali estava calado,