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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/355

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Todos o reconheciam. Fora ele, com a sua habilidade, a sua lábia, que descobrira a perfídia de João Eduardo, salvara a Ameliazinha, Leiria, a Sociedade.

— E em tudo o que pretender, o maroto, há-de encontrar-me pela frente. Enquanto ele estiver em Leiria não o largo! Que lhes disse eu, minha senhoras?.,, "Eu é que o esmago!" Pois aí o têm esmagado!

A sua face biliosa resplandecia. Estirou-se na poltrona, regaladamente, no repouso merecido de uma vitória difíci1. E voltando-se para Amélia;

— E agora, o que lá vai, lá vai! Livrou-se de uma fera, é o que lhe posso dizer!

Então os louvores - que já lhe tinham repetido prolixamente desde que ela rompera com a fera - recomeçaram, mais vivos:

— Foi a coisa de mais virtude que tens feito em toda a tua, vida!

— É a graça de Deus que te tocou!

— Estás em graça, filha!

— Enfim é Santa Amélia, disse o cônego erguendo-se, enfastiado daquelas glorificações. Pois parece-me que temos falado bastante do patife... Mande agora a senhora vir o chá, hem?

Amélia permanecia calada, cosendo à pressa; erguia às vezes rapidamente para Amaro um olhar desassossegado; pensava em João Eduardo, nas ameaças de Natário; e imaginava o escrevente com as faces encovadas de fome, foragido, dormindo pelas portas dos casais... E enquanto as senhoras se acomodavam, palrando, à mesa do chá, ela pôde dizer baixo a Amaro:

— Não posso sossegar com a idéia que o rapaz