Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/368

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as mesas lamparinas acesas, para serem colocadas sem demora aos santos especiais, quando a boa senhora tivesse a sua ciática, ou que o catarro se assanhasse, ou lhe viessem as cãibras. Ela mesma, só ela, arrumava, espanejava, lustrava toda aquela santa população celeste, aquele arsenal beato, que era apenas suficiente para a salvação da sua alma e o alívio dos seus achaques. O seu grande cuidado era a colocação dos santos; alterava-a constantemente, porque às vezes, por exemplo, sentia que Santo Eleutério não gostava de estar ao pé de S. Justino, e ia então pendurá-lo a distância, numa companhia mais simpática ao santo. E distinguia-os (segundo os preceitos do ritual que o confessor lhe explicava), dando-lhes uma devoção graduada, e não tendo por S. José de segunda classe o respeito que sentia por S. José de primeira classe. Aquela riqueza era a inveja das amigas, a edificação dos curiosos, e fazia sempre dizer ao Libaninho quando a vinha visitar, abrangendo a sala num olhar langoroso: - Ai, filha, é o reininho dos Céus!

— Não é verdade, continuava a excelente senhora radiante, que ele aqui é que estava bem, o santinho do pároco? É como ter o Céu debaixo da mão!

As duas senhoras concordaram. Ela podia ter a sua casa arranjada com devoção, ela que era rica...

— Não o nego, tenho aqui empregadinhos alguns centos de mil-réis. Sem contar o que está no relicário...

Ah, o famoso relicário de sândalo forrado de