abrira uma garrafa, não do seu famoso duque de 1815, mas do "1847", para acompanhar a travessa de aletria que enchia o centro da mesa, com as iniciais do pároco desenhadas a canela; era, como explicara o cônego, "uma galantaria da mana ao convidado". Amaro fizera logo uma saúde com o 1847 "à digna dona da casa". Ela resplandecia, medonha no seu vestido de barege verde. O que sentia é que o jantar fosse tão mau... Que aquela Gertrudes estava-se a fazer uma desleixada... Ia-lhe deixando esturrar o pato com macarrão!
— Oh, minha senhora, estava delicioso! protestou o pároco.
— São favores do senhor pároco. É porque eu lhe acudi a tempo... Mais uma colherzinha de aletria, senhor pároco.
— Nada mais, minha senhora, tenho a minha conta.
— Então para desgastar, vá mais esse copito do 47, disse o cônego.
Ele mesmo bebeu pausadamente um bom gole, deu um ah de satisfação, e repoltreando-se:
— Boa gota! assim pode-se viver!
Estava já rubro, e parecia mais obeso, com o seu grosso jaquetão de flanela e o guardanapo atado ao pescoço.
— Boa gota, repetiu, deste não provou hoje você nas galhetas.
— Credo, mano! exclamou D. Josefa com a boca cheia de fios de aletria, muito escandalizada da irreverência.
O cônego encolheu os ombros com desprezo.
— O credo é para a missa! Esta pretensão de