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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/423

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Era este poder divino do padre, esta familiaridade com Deus, tanto ou mais que a influência da sua, voz - que a faziam crer na promessa que ele lhe repetia sempre: que ser amada por um padre chamaria sobre ela o interesse, a amizade de Deus; que depois de morta dois anjos viriam tomá-la pela mão para a acompanhar e desfazer todas as dúvidas que pudesse ter S. Pedro, chaveiro do Céu; e que na sua sepultura, como sucedera em França a uma rapariga amada por um cura, nasceriam espontaneamente rosas brancas, como prova celeste de que a virgindade não se estraga nos braços santos dum padre...

Isto encantava-a. Àquela idéia da sua cova perfumada de rosas brancas, ficava toda pensativa, num antegosto de felicidades místicas, com suspirinhos de gozo. Afirmava, fazendo beicinho, que queria morrer.

Amaro galhofava.

— A falar da morte, com essas carnezinhas...

Engordara com efeito. Estava agora duma beleza ampla e toda igual. Perdera aquela expressão inquieta que lhe punha nos lábios uma secura e lhe afilava o nariz. Nos seus beiços havia um vermelho quente e úmido; o seu olhar tinha risos sob um fluido sereno; toda a sua pessoa uma aparência madura de fecundidade. Fizera-se preguiçosa: em casa, a cada momento suspendia o seu trabalho, ficava a olhar longamente com um sorriso mudo e fixo; e tudo parecia ficar adormecido um momento, a agulha, o pano que ela costurava, toda a sua pessoa. Estava revendo o quarto do sineiro, o catre, o senhor pároco em mangas de camisa.