Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/454

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Depois vinham perguntas singulares que o desesperavam, repetidas agora todos os dias. Se tinha dito a missa com fervor? Se tinha lido o Breviário? Se tinha feito a oração mental?...

— Sabes tu que mais? disse ele furioso. Sebo! E esta! Tu pensas que eu sou ainda seminarista, e que tu és o padre examinador, que verifica se cumpri a Regra? Ora a tolice!

— É que é necessário estar bem com Deus - murmurava ela.

Era com efeito a sua preocupação, agora, que Amaro fosse um bom padre. Contava, para se salvar e para se livrar da cólera de Nossa Senhora, com a influência do pároco na corte de Deus: e temia que ele por negligência de devoção a perdesse, e que, diminuindo o seu fervor, diminuíssem os seus méritos aos olhos do Senhor. Queria-o conservar santo e favorito do Céu para colher os proveitos da sua proteção mística.

Amaro chamava a isto "caturrices de freira velha". Detestava-as, por as achar frívolas - e porque tomavam um tempo precioso, naquelas manhãs da casa do sineiro...

— Nós não viemos aqui para lamúrias, dizia ele, muito secamente. Fecha a porta, se queres.

Ela obedecia, - e então aos primeiros beijos na penumbra da janela cerrada, ele reconhecia enfim a sua Amélia, a Amélia dos primeiros dias, o delicioso corpo que lhe tremia todo nos braços, em espasmos de paixão.

E cada dia a desejava mais, dum desejo contínuo e tirânico, que aquelas horas escassas não satisfaziam. Ah! positivamente, como mulher não havia outra!... Desafiava a que houvesse outra,