Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/469

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a polícia achava! E tudo por ela. Pobre rapaz! No fim não era feio... Falavam da sua impiedade; mas vira-o sempre muito atento à missa, rezava todas as noites uma oração especial a S. João que ela lhe dera impressa num cartão bordado...

Com o emprego no governo civil podiam ter uma casinha e uma criada... Por que não seria feliz, por fim? Ele não era rapaz de botequins, nem de vadiagem. Tinha a certeza de o dominar, de lhe impor os seus gostos e as suas devoções. E seria agradável sair aos domingos de manhã para a missa, arranjada, de marido ao lado, cumprimentada de todos, podendo, à face da cidade, passear o seu filho muito vistoso na sua touca de rendas e na sua grande capa franjada! Quem sabe se, então, pelos carinhos que desse ao pequerrucho e pelos confortos de que cercasse o homem, o Céu e Nossa Senhora se não abrandariam! Ah! para isso faria tudo, para ter outra vez no Céu aquela amiga, a sua querida Nossa Senhora, amável e confidente, sempre pronta a curar-lhe as dores, a livrá-la de infortúnios, ocupada a preparar-lhe no Paraíso um luminoso conchego!

Pensava assim horas inteiras, sobre a sua costura; pensava assim, mesmo no caminho para casa do sineiro; e depois de ter estado um momento com a Totó, muito quieta agora, extenuada da febre lenta, quando subia ao quarto, a primeira pergunta a Amaro era:

— Então, há alguma novidade?

Ele franzia a testa, rosnava:

— A Dionísia lá anda... Por quê, tens muita pressa?