Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/475

Wikisource, a biblioteca livre

beijos furiosos que a magoavam, pela face e pelos cabelos:

— Perdoa, murmurava, perdoa, minha Ameliazinha! Perdoa, que estou doido!

Ela soluçava, num pranto nervoso, - e toda a manhã foi no quarto do sineiro um delírio de amor a que aquele sentimento da maternidade, ligando-os como um sacramento, dava uma ternura maior, um renascimento incessante de desejo, que os lançava cada vez mais ávidos nos braços um do outro.

Esqueceram as horas; e Amélia só se decidiu a saltar do leito quando ouviram embaixo na cozinha a muleta do tio Esguelhas.

Enquanto ela se arranjava à pressa diante do bocado de espelho que ornava a parede, Amaro diante dela contemplava-a com melancolia, vendo-a passar o pente nos cabelos - nos cabelos que ele dentro em breve não tornaria a ver pentear; deu um grande suspiro, disse-lhe enternecido:

— Estão a acabar os nossos bons dias, Amélia. És tu que queres... Hás-de-te lembrar algumas vezes destas boas manhãs...

— Não diga isso! fez ela com os olhos arrasados de água.

E atirando-se-lhe de repente ao pescoço, com a antiga paixão dos tempos felizes, murmurou-lhe:

— Hei-de ser sempre a mesma para ti... Mesmo depois de casada.

Amaro agarrou-lhe as mãos sofregamente:

— Juras?

— Juro.

— Pela hóstia sagrada?