Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/500

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a benzedeira pôr-lhe virtude na perna: era o que tinha curado o morgadinho da Barrosa, e o Pimentel de Ourém...

Natário, na presença das duas rosas do seu canteiro, calmava-se.

— Coitaditas, não é por falta de cuidados delas que eu ainda não arribei... Mas tenho sofrido, caramba!

E as duas rosas, com o mesmo movimento simultâneo, voltavam-se para o lado limpando os olhos aos lenços.

Amaro saía dali, mais enfastiado.

Para se fatigar tentava dar grandes passeios pela estrada de Lisboa. Mas apenas se afastava do movimento da cidade, a sua tristeza tornava-se mais intensa, concordando com aquela paisagem de colinas tristes e árvores enfezadas: e a sua vida aparecia-lhe como essa mesma estrada monótona e longa, sem um incidente que a alegrasse, estirando-se desoladamente até se perder nas brumas do crepúsculo. Às vezes, ao voltar, entrava no cemitério, ia passeando entre os renques de ciprestes, sentindo àquela hora do fim da tarde a emanação adocicada das moutas de goivos; lia os epitáfios; encostava-se à grade dourada do jazigo da família Gouveia, contemplando os emblemas em relevo, um chapéu armado e um espadìm, seguindo as negras letras da famosa ode que lhe adorna a lápide:

Caminhante, detém-te a contemplar

Estes restos mortais;

E, se sentires a mágoa a trasbordar,

Detém teus ais.