Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/502

Wikisource, a biblioteca livre

— Todos têm as suas solidões, tio Esguelhas, dizia melancolicamente Amaro.

O sineiro então suspirava, perguntava pela Sr. D. Josefa, pela menina Amélia...

— Lá está na quinta.

— Coitadita, não está má estopada...

— Cruzes da vida, tio Esguelhas.

E continuavam calados por entre as ruas de buxo que fecham os canteiros cheios de negrejamento das cruzes e da brancura das lápides novas. Amaro, às vezes, reconhecia alguma sepultura que ele mesmo tinha aspergido e consagrado: onde estariam aquelas almas que ele recomendara a Deus em latim, distraído, engorolando à pressa as orações para ir ter com Amélia? Eram jazigos de gente da cidade; ele conhecia de vista as pessoas da família; vira-as então lavadas em lágrimas, e agora passeavam em rancho pela alameda ou chalaceavam ao balcão das lojas...

Voltava para casa mais triste, - e a sua longa noite começava, infindável. Tentava ler; mas ao fim das dez primeiras linhas bocejava de tédio e de fadiga. Às vezes escrevia ao cônego. Às nove horas, tomava chá; e depois era um passear sem fim pelo quarto fumando maços de cigarros, parando à janela a olhar a negrura da noite, lendo aqui e além uma notícia ou um anúncio do Popular, e recomeçando a passear com bocejos tão cavos que a criada os ouvia na cozinha.

Para entreter as noites melancólicas, e por um excesso de sensibilidade ociosa, tentara fazer versos, pondo o seu amor e a história dos dias felizes nas fórmulas conhecidas da saudade lírica: