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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/509

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então certa que tudo seria assim, traço por traço - o seu anjo da guarda fugindo aos soluços; Deus Padre desviando o rosto dela com repugnância; o esqueleto da morte rindo ás gargalhadas; e demônios de cores rutilantes, com todo um arsenal de torturas, apoderando-se dela, uns pelas pernas, outros pelos cabelos, arrastando-a com uivos de júbilo para a caverna chamejante toda abalada da tormenta de rugidos que solta a Eterna Dor... E ela podia ver ainda, no fundo dos Céus, a grande balança - com um dos pratos muito alto onde as suas orações não pesavam mais que uma pena de canário, e o outro prato caído, de cordas retesadas, sustentando a enxerga da cama do sineiro e as suas toneladas de pecado.

Caiu então numa melancolia histérica que a envelhecia; passava os dias suja e desarranjada, não querendo dar cuidados ao seu corpo pecador; todo o movimento, todo o esforço lhe repugnava; as mesmas orações lhe custavam, como se as julgasse inúteis; e tinha atirado para o fundo duma arca o enxoval que andava a costurar para o filho - porque o odiava, aquele ser que ela sentia mexer-se-lhe já nas entranhas e que era a causa da sua perdição. Odiava-o - mas menos que o outro, o pároco que lho fizera, o padre malvado que a tentara, a estragara, a atirara às chamas do Inferno! Que desespero quando pensava nele! Estava em Leiria sossegado, comendo bem, confessando outras, namorando-as talvez - e ela ali sozinha, com o ventre condenado e enfartado do pecado que ele lá depusera, ia-se afundindo na perdição sempiterna!

Decerto esta excitação a teria matado - se