Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/517

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pássaros, e pum, pum de fuzilaria. Ou então era descrições das caçadas selvagens que ele lera com gula - a caça ao tigre do Nepal, ao leão da Argélia e ao elefante, histórias ferozes que arrastavam a imaginação da rapariga para longe, para os países exóticos onde a erva é alta como os pinheiros, o sol queima como um ferro em brasa, e entre cada ramagem reluzem os olhos duma fera... E depois, a propósito de tigres e de malaios, lembrava- lhe um história curiosa de S. Francisco Xavier, e ei-lo lançado, o terrível palrador, na descrição dos feitos da Ásia, das armadas da Índia e das estocadas famosas do cerco de Dio!

Foi mesmo um desses dias, no pomar, em que o abade, tendo começado por enumerar as vantagens que o cônego tiraria de transformar o pomar em terra de lavoura, acabara por contar perigos e valores dos missionários da Índia e do Japão - que Amélia, então em toda a intensidade dos seus terrores noturnos, falou dos ruídos que ouvia na casa e dos sobressaltos que lhe davam.

— Oh, que vergonha! disse o abade rindo; uma senhora da sua idade ter medo de papões...

Ela então, atraída por aquela bondade do senhor abade, contou-lhe as vozes que ouvia de noite por detrás da barra da cama.

O abade pôs-se sério:

— Minha senhora, isso são imaginações que deve a todo o custo dominar... Decerto tem havido prodígios no mundo, mas Deus não se põe assim a falar a qualquer, por detrás das barras das camas, nem permite ao demônio que o faça... Essas vozes, se as ouve, e se os seus pecados são