— Ouve lá, disse Amaro com os olhos chamejantes, agarrando-lhe o braço, tu confessaste-te ao abade?...
— Para que quer saber? Confessei... Não é vergonha nenhuma...
— Mas confessaste tudo, tudo? perguntou ele com os dentes cerrados de raiva.
Ela perturbou-se, e tratando-o ainda por tu:
— Foste tu que me disseste muitas vezes... Que era o maior pecado neste mundo, esconder alguma coisa ao confessor!
— Bêbeda! rugiu Amaro.
Os seus olhos devoravam-na. E, através da névoa de cólera que lhe enchia o cérebro e lhe fazia latejar as veias na fronte, achava-a mais bonita, com umas redondezas em todo o corpo que ardia por abraçar, com uns lábios vermelhos avivados pelo largo ar do campo que ele queria morder até ao sangue.
— Ouve, disse-lhe cedendo a uma invasão brutal do desejo. Ouve... Acabou-se, não me importa. Confessa-te ao diabo se te agrada... Mas hás-de ser a mesma para mim!
— Não, não! disse ela com força, desprendendo-se, pronta a fugir para casa do ferreiro.
— Tu mas pagarás, maldita! rosnou o padre por entre dentes, voltando as costas, descendo o caminho com passadas de desesperado.
E não abrandou o passo até à cidade, levado dum impulso de indignação que, sob aquela doce paz dum meio de Outono, lhe sugeria planos de vinganças ferozes. Chegou a casa esfalfado, ainda com o ramo na mão. Mas aí, na solidão do quarto, veio-lhe pouco a pouco o sentimento da sua impotência.