Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/534

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durante a meia hora que ele ali ficou, ora num silêncio sombrio acabrunhado para o fundo da poltrona, ora respondendo distraidamente à tagarelice da velha, muito faladora essa manhã.

E na semana seguinte foi o mesmo: se o ouvia entrar fechava-se rapidamente no quarto: só vinha se a velha mandava a Gertrudes dizer-lhe que estava ali o senhor pároco que a queria ver. Ia, então, estendia-lhe a mão, que ele achava sempre a escaldar - e tomando a sua eterna costura, junto da janela, ia picando o posponto com uma taciturnidade que desesperava o padre.

Tinha-lhe escrito outra carta. Ela não respondera.

Então jurava não voltar à Ricoça, desprezá-la, - mas depois de ter passado a noite, rolando-se pela cama sem poder dormir, com a mesma visão da nudez dela cravada intoleravelmente no cérebro, lá partia de manhã para a Ricoça, corando quando o apontador das obras na estrada, que o via passar todos os dias, lhe tirava o seu boné de oleado.

Numa tarde que chuviscava, ao entrar no casarão, dera com o abade Ferrão que à porta abria o seu guarda-chuva.

— Olá, por aqui, senhor abade? disse ele.

O abade respondeu naturalmente:

— Em vossa senhoria é que não há que estranhar, que vem por aqui todos os dias...

Amaro não se conteve; e tremendo de cólera:

— E que lhe importa ao senhor abade se eu venho ou não? A casa é sua?

Aquela brutalidade tão injustificável ofendeu o abade: