Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/553

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Então a velha rompeu em queixumes amargos: Uma solidão! Um tempo de chuva! Uma falta de amizades! Ai! ela estava ali a perder a sua alma naquela quinta fatal...

— Pois eu, disse o padre Amaro traçando a perna, dei-me tão bem que estou com idéias de voltar para a semana.

Amélia, sem se conter, exclamou:

— Ora essa! outra vez!

— Sim, disse ele. Se o senhor chantre me der uma licença de um mês, vou lá passá-lo... Fazem-me uma cama na sala de jantar do padre-mestre, e tomo um par de banhos... Estava farto de Leiria, e daquele aborrecimento... '

A velha parecia desolada. O quê, voltar! Deixá-las ali a estarrecer de tristeza!

Ele galhofou:

— Ora, as senhoras não precisam cá de mim. Estão bem acompanhadas...

— Eu não sei, disse a velha com azedume, se os outros - acentuou com rancor a palavra - se os outros não precisam do senhor pároco... Eu é que não estou bem acompanhada, estou aqui a perder a minha alma... Que as companhias que ai vêm não dão honra nem proveito.

Mas Amélia acudiu para contrariar a velha:

— E de mais a mais o Sr. abade Ferrão tem estado doente... Está com reumatismo. Sem ele a casa parece uma prisão.

D. Josefa deu um risinho de escárnio. E o padre Amaro, erguendo- se para sair, lamentou o bom abade.

— Coitado! Santo homem... Hei-de ir vê-lo em tendo vagar. Pois amanhã cá apareço, D. Josefa,