Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/562

Wikisource, a biblioteca livre

A Dionísia sorriu, apiedada daquela inocência de homem.

— Entregam, sim senhor, às dúzias!

Houve um silêncio. O pároco continuava o seu passeio do lavatório para a janela, de cabeça baixa.

— Mas que proveito tira a mulher, se as crianças morrem? perguntou de repente. Perde as soldadas...

— É que se lhe paga um ano de criação adiantado, senhor pároco. A dez tostões ao mês, ou quartinho, segundo as posses...

O pároco, agora encostado à janela, rufava devagar nos vidros.

— Mas que fazem as autoridades, Dionísia?

A boa Dionísia encolheu silenciosamente os ombros.

O pároco então sentou-se, bocejou, e estirando as pernas disse:

— Bem, Dionísia, vejo que a única coisa a fazer é falar à tal ama que vive ao pé da Ricoça, à Joana Carreira. Eu arranjarei isso...

A Dionísia falou ainda nas peças de enxoval que já tinha comprado por conta do pároco, dum berço muito barato em segunda mão que vira no Zé Carpinteiro - e ia sair com a carta para o correio, quando o pároco erguendo-se e galhofando:

— Ó tia Dionísia, essa coisa da tecedeira de anjos é uma história, hem?

Então a Dionísia escandalizou-se. O senhor pároco sabia que ela não era mulher de intrigas. Conhecia a tecedeira de anjos há mais de oito anos, de lhe falar e de a ver na cidade quase