Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/571

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coçando-lhe devagarinho a coroa; queria que se tirasse a fotografia ao Carlinhos para a trazerem ambos numa medalha ao pescoço; e se ela morresse, ele havia de levar o Carlinhos à sepultura, ajoelhá-lo, pôr-lhe as mãozinhas, fazê-lo rezar pela mamã. Atirava-se então para a almofada, tapando o rosto com as mãos:

— Ai, pobre de mim, meu querido filho, pobre de mim!

— Cala-te, que vem gente! dizia-lhe Amaro furioso.

Ah, aquelas manhãs na Ricoça! Eram para ele como uma penalidade injusta. Ao entrar tinha de ir à velha escutar-lhe as lamúrias. Depois, era aquela hora com Amélia, que o torturava com as pieguices dum sentimentalismo histérico, - estirada no sofá, grossa como um tonel, com a face intumescida, os olhos papudos...

Numa dessas manhãs, Amélia, que se queixava de cãibras, quis dar um passeio pelo quarto apoiada a Amaro: e ia-se arrastando, enorme no seu velho robe-de-chambre, quando se sentiram, embaixo no caminho, passos de cavalos; chegaram à janela - mas Amaro recuou vivamente, deixando Amélia que embasbacara com a face contra a vidraça. Na estrada galhardamente montado numa égua baia, passava João Eduardo de paletó branco e chapéu alto; ao lado trotavam os dois Morgaditos, um num pônei, outro acorreado num burro; e atrás, a distância, num passo de respeito e de cortejo, um criado de farda, de bota de cano e esporões enormes, com uma libré muito larga que lhe fazia na ilharga rugas grotescas, e no chapéu a roseta escarlate. Ela ficara