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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/573

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— Ai, vem pela manhã ver a madrinha... Mas eu não lhe apareço, que nem estou decente...

Todo o tempo que podia estar de pé, passava-o agora à janela, muito arranjada da cinta para cima que era o que se podia ver da estrada - enxovalhada das saias para baixo. Estava esperando João Eduardo, os Morgados e o lacaio; e tinha de vez em quando, com efeito, o gozo de os ver passar, naquele passo bem lançado de cavalos de preço, sobretudo o da égua baia de João Eduardo, que ele defronte da Ricoça fazia sempre ladear, de chicote atravessado e perna à Marialva, como lhe ensinara o Morgado. Mas era o lacaio, sobretudo, que a encantava: e com o nariz nos vidros seguia-o num olhar guloso, até que à volta da estrada via desaparecer o pobre velho, de dorso corcovado, com a gola da farda até à nuca e as pernas bamboleantes.

E para João Eduardo que delícia aqueles passeios com os Morgaditos, na égua baia! Nunca deixava de ir à cidade: fazia-lhe bater o coração o som das ferraduras sobre o lajedo: ia passar diante da Amparo da botica, diante do cartório do Nunes, que tinha a sua banca ao pé da janela, diante da Arcada, diante do senhor administrador que lá estava na varanda de binóculo para a Teles - e o seu desgosto era não poder entrar com a égua, os Morgaditos e o lacaio pelo escritório do doutor Godinho que era no interior da casa.

Foi um dia, depois dum desses passeios triunfais, que voltando às duas horas da Barrosa, ao chegar ao Poço das Bentas e ao subir para o caminho de carros, viu de repente o Sr. padre