— Diz que vem na Nação de anteontem um artigo muito bom - observou o coadjutor, grave.
— Ah! fez Amaro.
Passeava no seu trilho costumado, do lavatório para a janela; parava às vezes a rufar nos vidros; já se tinham acendido os candeeiros.
Então o coadjutor, chocado com aquela treva do quarto e aquele passear de fera numa jaula, ergueu-se, e com dignidade:
— Estou a incomodar talvez...
— Não!
E o coadjutor satisfeito sentou-se, com o seu guarda-chuva entre os joelhos.
— Agora anoitece mais cedo, disse.
— Anoitece...
Enfim Amaro desesperado declarou-lhe que tinha uma enxaqueca odiosa, que se ia encostar: e o homem saiu, depois de lhe lembrar ainda o batizado do menino do seu amigo Guedes.
Amaro partiu logo para a Ricoça. Felizmente a noite estava tenebrosa e quente, anunciando chuva. Ia agora tomado duma esperança que lhe fazia bater o coração: era que a criança nascesse mortal E era bem possível. A S. Joaneira em nova tivera duas crianças mortas; a ansiedade em que vivera Amélia devia ter perturbado a gestação. E se ela morresse também? Então a esta idéia, que nunca lhe acudira, invadiu-o bruscamente uma piedade, uma ternura por aquela boa rapariga que o amava tanto, e que agora, por obra dele, gritava dilacerada de dores. E todavia, se ambos morressem, ela e a criança, era o seu pecado e o seu erro que caíam para sempre nos escuros abismos da eternidade... Ele ficava, como