— Venho-lhe dizer adeus, tio Esguelhas, murmurou por fim. Vou a Lisboa, tenho minha irmã a morrer...
E acrescentou com os beiços trêmulos dum choro que ia romper:
— Todas as desgraças vêm juntas. Sabe, a pobre Ameliazinha lá morreu de repente...
O sineiro emudeceu, assombrado.
— Adeus, tio Esguelhas. Dê cá a mão, tio Esguelhas. Adeus...
— Adeus, senhor pároco, adeus! disse o velho com os olhos arrasados de água.
Amaro fugiu para casa, contendo-se para não soluçar alto pelas ruas. Disse logo à Escolástica que ia partir nessa noite para Lisboa. O tio Cruz devia mandar-lhe um cavalo, para ir tomar o comboio a Chão de Maçãs.
— Eu não tenho senão o dinheiro que é necessário para a jornada. Mas o que aí me fica em lençóis e toalhas é para você...
A Escolástica, chorando de perder o senhor pároco, quis beijar-lhe a mão por tanta generosidade: ofereceu-se para fazer a mala...
— Eu mesmo a arranjo, Escolástica, não se incomode.
Fechou-se no quarto. A Escolástica, ainda choramigando, foi logo recolher, examinar as poucas roupas que estavam pelos armários. Mas Amaro daí a pouco gritou por ela: diante da janela uma harpa e uma rabeca, em desafinação, tocavam a valsa dos Dois mundos.
— Dê um tostão a esses homens, disse o padre furioso. E diga-lhes que vão pro inferno... Que está aqui gente doente!