Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/609

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duma volta da estrada, teve de apear para compor o estribo: e ia montar, quando apareceram dobrando o muro o doutor Godinho, o secretário-geral e o senhor administrador do concelho, muito amigos agora, e que vinham, depois do passeio, recolhendo para a cidade. Pararam logo a falar ao senhor pároco - admirando-se de o ver ali, de maleta na garupa, com ares de jornada...

— É verdade, disse, vou para Lisboa!

O antigo Bibi e o administrador suspiraram invejando-lhe a felicidade. - Mas quando o pároco falou da irmã moribunda, afligiram-se com polidez: e o senhor administrador disse:

— Deve estar muito sentido, compreendo... De mais a mais essa outra desgraça na casa daquelas senhoras suas amigas... A pobre Ameliazinha, morta assim de repente...

O antigo Bibi exclamou:

— O quê? A Ameliazinha, aquela bonita que morava na Rua da Misericórdia? Morreu?

O doutor Godinho também o ignorava, e pareceu consternado.

O senhor administrador soubera-o pela sua criada, que o ouvira da Dionísia. Dizia-se que fora um aneurisma.

— Pois senhor pároco, exclamou Bibi, desculpe se aflijo as suas crenças respeitáveis, que são as minhas de resto... Mas Deus cometeu um verdadeiro crime... Levar-nos a rapariga mais bonita da cidade! Que olhos, senhores! E depois com aquele picantezinho da virtude...

Então, num tom de pêsames, todos lamentaram aquele golpe que devia ter afetado tanto o senhor pároco.