Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/621

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O cônego disse uma palavra baixo ao ouvido do padre Amaro.

— Deveras, padre-mestre?

— Na Rua das Sousas, a dois passos da sua antiga casa. O D. Luís da Barrosa é que lhe deu o dinheiro para montar o estabelecimento. Pois aqui estão as novidades. E você está mais forte, homem! Fez-lhe bem a mudança...

E pondo-se diante, galhofando:

— Ó Amaro, e você a escrever-me que queria retirar-se para a serra, ir para um convento, passar a vida em penitência.

O padre Amaro encolheu os ombros:

— Que quer você, padre-mestre?... Naqueles primeiros momentos... Olhe que me custou! Mas tudo passa...

— Tudo passa, disse o cônego. E depois de uma pausa: - Ah! Mas Leiria já não é Leiria!

Passearam então um momento em silêncio, numa recordação que lhes vinha do passado, os quinos divertidos da S. Joaneira, as palestras ao chá, as passeatas ao Morenal, o Adeus e o Descrido cantados pelo Artur Couceiro e acompanhados pela pobre Amélia que, agora, lá dormia no cemitério dos Poiais, sob as flores silvestres...

— E que me diz você a estas coisas da França, Amaro? - exclamou de repente o cônego.

— Um horror, padre-mestre... O arcebispo, uma súcia de padres fuzilados!... Que brincadeira!

— Má brincadeira, rosnou o cônego.

E o padre Amaro:

— E cá pelo nosso canto parece que começam também essas idéias...

O cônego assim o ouvira. Então indignaram-se