Embrulhada no seu xale, direita, com os braços cruzados, falava perpetuamente, numa voz dominante e aguda, cheia de opiniões. Dizia mal dos homens e dava-se toda à Igreja.
A irmã, a Sra. D. Ana, era extremamente surda. Nunca falava, e com os dedos cruzados sobre o regaço, os olhos baixos, fazia girar tranquilamente os dois polegares. Nutrida, com o seu perpétuo vestido preto de riscas amarelas, um rolo de arminho ao pescoço, dormitava toda a noite, e só acentuava a sua presença de vez em quando por suspiros agudos; dizia-se que tinha uma paixão funesta pelo recebedor do correio. Todos a lastimavam, e admirava-se a sua habilidade em recortar papéis para caixas de doce.
Estava também a Sra. D. Josefa, a irmã do cônego Dias. Tinha a alcunha de castanha pilada. Era uma criaturinha mirrada, de linhas aduncas, pele engelhada e cor de cidra, voz sibilante; vivia num perpétuo estado de irritação, os olhinhos sempre assanhados, contrações nervosas de birra, toda saturada de fel. Era temida. O maligno doutor Godinho chamava-lhe a estação central das intrigas de Leiria.
— Então passeou muito, senhor pároco? perguntou ela logo empertigando-se.
— Fomos quase até lá ao fim da estrada de Marrazes, disse o cônego, sentando-se pesadamente por detrás da S. Joaneira.
— Não achou bonito, senhor pároco? acudiu a Sra. D. Joaquina Gansoso.
— Muito bonito.
Falaram das lindas paisagens de Leiria, das boas vistas: a Sra. D. Josefa gostava muito do