Página:O Gaucho (Volume I).djvu/130

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Manuel pensativo não escutava a tagarelice do menino.

— Diga-me; quando a gente morre, enterra-se numa cova assim, não é? tornou o menino apontando para o buraco aberto no chão. Mas este ainda está pequeno para o pai; é preciso cavar mais. Depois bota-se uma cruz, não é?

— Pode-se ver seu pai?

— Entre!

A sala estava deserta; mas em um aposento contíguo, ouviam-se gemidos, prantos sufocados, e vozes abafadas. Era o quarto do enfermo. Chegando-se à porta, o gaúcho pôde ver o Barreda prostrado na cama e sucumbido a uma febre violentíssima.

Ninguém fez reparo no recém-chegado. No campo, onde a morada do pobre, como do rico, está aberta sempre ao viajante, o hóspede não é um estranho. Além de que nesses momentos solenes a casa como que se transforma em templo, onde todos entram levados pela curiosidade do terrível mistério que a alma tenta perscrutar.

Outra razão especial ainda havia para demover de Manuel a atenção das pessoas reunidas no aposento do moribundo. Todos os olhos estavam