— Arreie meu cavalo, disse o Loureiro a um peão que saía da choça.
— O cavalo está se ferrando.
— Não há aí outro animal?
— Só o Morzelo, que foi do defunto.
— Pois arreie.
Manuel estremecera. Vendo entrar o peão, atirou-se ao peito do cavalo, cingindo-lhe o pescoço com os braços, e procurando defendê-lo com seu corpo contra o intento do rapaz, que se preparava par selar o animal.
— Não arreia que eu não deixo! exclamou o menino com raiva.
Lágrimas de cólera e dor saltavam-lhe dos olhos, e caíam sobre a cabeça do animal que ele apertava ao peito para subtraí-lo ao freio. O Morzelo, dócil e submisso, deixava abraçar-se pelo menino; mas a sua pupila negra às vezes incendiava-se e desferia rápidas centelhas.
Acudiu o negociante que ouvira os gritos de Manuel e, retirando-o à força, acenou ao peão indeciso:
— Ponha o freio!
— Não há de pôr! gritou Manuel. Quer tomar o cavalo de meu pai, como já tomou a mulher. Está muito enganado!