Página:O Gaucho (Volume I).djvu/178

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O teimoso menino, aproveitando-se da comoção que suas palavras tinham produzido no negociante, escapou-se e travou do freio, forcejando por tirá-lo da mão do peão. Nova luta se travou entre Loureiro e o enteado, a quem o desespero duplicava as forças.

O negociante irritado subjugou o menino contra as varas da ramada, enquanto o peão, assoviando com certa indiferença escarninha, acabava de arrear o animal.

— Solta-me, demônio! gritava Manuel.

— Meio, sossegue, se não quer que o amarre.

— Tu és capaz?

O peão acabara de selar o cavalo, que puxara para fora da ramada. Prendendo Manuel dentro da palhoça, o negociante saltou na sela, antes que o alcançasse o menino que forcejava por abrir a cancela, mal segura com uma correia.

Vendo Loureiro montado no cavalo, sucumbiu o menino. Com o semblante horrivelmente pálido, os braços caídos e o corpo vacilante, seus olhos pasmos projetavam-se das órbitas, com o arrojo de sua alma, para o animal que não podia proteger.

Entretanto o Morzelo, parado ainda, fitava de esguelha a pupila