Página:O Gaucho (Volume I).djvu/184

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Das criaturas mais queridas do homem que se finara, uma, sua esposa e companheira, subtraíra-se à memória daquele a quem jurara eterna fidelidade e se entregara a um estranho. Outra, o Juquinha, débil criança, desprendida deste mundo desde que lhe tinham morto o pai, roubado a mãe, voara para o céu.

Os camaradas, esse apêndice da família, haviam passado do serviço de Canho para o do Loureiro com a maior indiferença. Não pareciam ligados a seu antigo patrão, mas ao dono da casa qualquer que ele fosse.

Não achava pois o menino em torno de si um coração humano, que se identificasse com sua dor, e partilhasse a saudade que enchia-lhe a alma. Só o cavalo, só o Morzelo, parecia compreendê-lo.

Esse amigo fiel não esquecera o dono, nem esmorecera. Depois da morte do amansador, não consentiu que ninguém o montasse a não ser o filho, porque este aprendera do pai a falar-lhe. Quando o intruso da casa teve o arrojo de cavalgá-lo, suportou paciente a afronta, mas para vingar o senhor.

Era essa a interpretação dada por Manuel à catástrofe