Página:O Gaucho (Volume I).djvu/209

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— Vai enterrar teu capataz, disse Manuel.

O negro obedeceu à ordem. A haste da lança, cravada no coração da vítima, surdia fora da cova cerca de uma braça. Manuel quebrou um troço da outra lança com que pelejara Barreda, e atou-o de través com um tento de couro cru, formando os braços de uma cruz.

Terminada assim a triste cerimônia, procurou no campo uma pedra para deitá-la no pé da cruz, sendo ele o primeiro a praticar esse ato de piedade e respeito pelas cinzas do morto.

Muita gente ignora o que significa esse costume de chegar o passante uma pedra para a cruz, erigida à beira do caminho. É uma singela devoção do povo. Em falta de lousa, sela-se o túmulo com um cômoro de seixos.

Quando Manuel partiu desse triste lugar, sentiu na face uma ligeira umidade: era lágrima, ou gota de suor que lhe escorria da fronte?

Atravessando a Banda Oriental, o gaúcho passou a fronteira em Jaguarão. Queria ver Bento Gonçalves e falar-lhe. Depois do que fizera, carecia para viver tranqüilo da aprovação de seu padrinho. O coronel era para ele o símbolo da coragem, da honra, da justiça, da virtude. Aquilo que ele