Página:O Gaucho (Volume I).djvu/233

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irmão se afigurava que seria mais sedutora nas faces e pelo colo da mulher, uma tez ardente e voluptuosa como a tinha a Morena. Esbelteza de talhe, mimo de formas e graças titilantes de beija-flor, ninguém as possuía como a filha do Loureiro; e contudo aquela vigorosa carnação das ancas e o esgalgo dos rins, que debuxavam a estampa da baia, Manuel as contemplava com deleite. Devia de ser aquele o tipo da beleza na mulher.

De repente as duas criaturas se confundiam, ou antes se transfundiam. Esse vulto gracioso de menina crescia, tornava-se donzela e revestia as prendas que ele invejava da Morena, para uma bonita moça. E daí, dessa alucinação dos espíritos, surgia um sonho ou visão, que um poeta chamara seu ideal; mas para o rude gaúcho era apenas seu feitiço.

Essa visão tinha o moreno suave e o sorriso fagueiro da menina que ele vira em Jaguarão; mas sobretudo, a cintilação do olhar que lhe traspassara o coração como a faísca de um raio.

Depois de semelhantes desvarios, ficava o gaúcho preso de um estranho acanhamento. Não se chegava para as duas criaturas; nem mesmo