Página:O Gaucho (Volume I).djvu/27

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— Bem sei; e ganhou aos vencedores. Pois é isso, que eu tinha cá na idéa. E querem vêr?

Proferindo estas palavras, o Chico Baeta afastou-se do murzello para melhor examinal-o.

— Não ha duvida. Foi este o moço?

— É verdade!

— Eh pingo! exclamou o peão, dando com enthusiasmo uma palmada na anca do animal.

Só comprehenderá a energia da exclamação do Chico Baeta quem souber que pingo é o epitheto mais terno que o gaúcho dá a seu cavallo. Quando elle diz « meu pingo » é como se dissesse meu amigo do coração, meu amigo leal e generoso.

— Que faisca, Sr. Manoel Canho. Emquanto os outros ginetes, e os havia de fama, levantavão a poama na quadra, cá a murzellinho fez traz, zaz, zaz e fuzilou na raia como um corisco.

Canho estava gostando de ouvir o elogio feito a seu animal; o cavallo é uma das fibras mais sensíveis do coração do gaúcho. Mas alguma cousa instigava o viajante, que fazendo um esforço interrompeu o pião.

— Então se me dá licença, vou-me andando. Careço de estar hoje na villa sem falta.