Voltou-se Manuel já de ânimo sereno, designando o animal com um aceno da mão estendida:
— Pois a égua aí está, senhores. Quem quiser que a monte. Se é tão fácil!
Alguns dos peões se adiantaram para outra vez tentarem cavalgar o animal: não deram, porém, dez passos. Mal lhes pressentiu o intento, a égua, volvendo sobre as mãos de um tranco, e upando as ancas, arremessou tal cascata de coices, que afugentou os fanfarrões, obrigados a buscarem refúgio no alpendre.
Então a formosa besta correu para junto do gaúcho que estava arredio, e começou a roçar por ele o pescoço como se o afagasse. Sossegou-a ele amimando-lhe o pêlo dourado; e voltando-se para os companheiros, interpelou-os com ar de mofa:
— Então, não há quem queira?
Nenhum respondeu: falavam entre si.
— O homem tem partes com o diabo! Cruzes!
— O caso é que ninguém sabe donde saiu.
Entretanto Manuel tinha de novo montado, e desta vez, com toda pachorra, sem que a égua fizesse o menor movimento de impaciência. Antes mostrava ela grande contentamento de obedecer ao gesto do gaúcho.