Página:O Gaucho (Volume I).djvu/87

Wikisource, a biblioteca livre

pernas, um pêlo ríspido e fulvo, semelhante ao do caititu. Na mão direita empunhava um chuço, cuja haste grossa e faceada servia ao mesmo tempo de vara e de clava. Na esquerda suspendia pelas quatro patas, como se fosse algum coelho, o tigre que matara poucos momentos antes.

Correu o desconhecido os olhos pelo interior, prescrutando o que passara em sua ausência. Vira os passos do gaúcho e do animal nas margens do arroio.

— Deus o salve, amigo! disse Manuel erguendo-se.

— Para o servir, respondeu o desconhecido.

Era rouca e áspera a voz, porém articulada. No primeiro instante pareceu estranho que saísse fala humana daquela boca hirsuta, como o focinho de uma fera.

— Por que não se deita? perguntou ao gaúcho com rispidez.

Atirando a caça à banda, comeu o desconhecido a naca de carne, ainda crua, que estava sobre o braseiro. Para beber água foi ao arroio e estendeu-se de bruços pela margem. De volta ao rancho, aproximou-se dos pés do leito onde o