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Página:O Gaucho (Volume II).djvu/265

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meio das gargalhadas satânicas do raio que surriava fustigando as escarpas do rochedo.

Únicos, no meio dessa horrível subversão, aquele homem e aquela mulher não se apercebiam dos furores da procela; dentro de suas almas lhes tumultuava outra furiosa tormenta que as devastava com sanha mais terrível que a do raio.

Abraçada aos pés do gaúcho, Catita murmurava:

— Nunca amei senão a ti, Manuel, eu juro. Não digo isto para que me perdoes. Não mereço, não quero perdão. Mas vê o que sofri, e estou sofrendo neste momento. Tu foste traído; e eu que me traí a mim mesma?... Eu que me detesto mais do que tu podes detestar a infeliz que te enganou?... Amar, e sentir-se indigna desse amor, não há maior suplício, Manuel!

A alma do Canho se crispava, semelhante ao mísero que tomado de vertigem à beira do precipício se estorce e contrai para escapar à fascinação do abismo, e debalde estende as mãos convulsas em busca de algum frágil apoio. Com