Página:O Gaucho (Volume II).djvu/84

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Finalmente parou Félix e voltando-se para o companheiro, disse-lhe sacando fora o poncho:

— Esta noite um de nós deve matar o outro!

— Por quê? perguntou Manuel com sossego.

— Pois pergunta?

— Decerto, respondeu o Canho sem mudar de tom. O motivo por que você me quer matar, pouco me importa saber; eu nunca perguntei à jararaca por que morde a gente. Mas para que eu o mate, é preciso ter uma razão; não mato gente à toa.

— Você bem sabe a razão, tornou Félix rangendo-lhe os dentes. Eu gosto de Catita!

— E que tenho eu com isso?

— Você também gosta dela.

Respondeu-lhe um riso de escárnio.

— Logo vi que não estava no seu juízo. Aposto que veio da venda? redargüiu o Canho.

— Não tenho que lhe dar satisfações. Estou aqui para brigar e não para sofrer desaforos.

— Nem eu para ouvir mentiras.

— Nega que ela gosta de você?

— Vou dormir; adeus!