Página:O Hóspede.djvu/108

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se em perspectivas sorridentes, fazendo-lhe achar a existência tão boa e cheia de bem-estares! Ali pelo quarto tão asseado, a despertar-lhe uns desejos preguiçosos, ele passeava nuns compassados de movimentos, despindo as roupas, preparando-se para dormir, a ruminar todos estes pensamentos, enfeixando-os ao grande poema otimista que andava compondo nuns versículos de risadas burguesas e de digestões pacíficas.

Depois, sentou-se à beira da cama, vestindo apenas um chambre, as pernas cabeludas saindo-lhe pelas aberturas, a balançarem-se compassadamente. A luz da vela tinha uns palores mórbidos clareando vagamente o aposento. E ele recostara-se, a cabeça por sobre o travesseiro. Esperava. Antes de se retirar tinha falado a respeito com o Pedro, e este lhe prometera arranjar tudo imediatamente. Desde a viagem que andava um pouco incomodado e na véspera tomara apenas um banho frio.

Contava porém melhorar com um de água morna, e como o amigo lho prometesse, admirava-se de que tardasse tanto, já quase adormecido. Entretanto um barulho de balde a gemer nas argolas vinha subindo pela escada acima. Enfim a Marocas