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O INFERNO
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são condemnados a comer calháos asperrimos de puas agudas; os luxuriosos são apertados nos braços de estatuas de ferro em braza.

Contam pelo miudo todas as circumstancias d'estes infinitos martyrios, e taes narrativas fariam impallidecer Ixion sobre a sua roda, Sizipho debaixo do seu penedo. Sabem os hindostanicos pelos livros e pela tradição em que ponto da sua terra está situado o Naraka e a que profundeza se encontra. Mas não podem os mortos encerrados ahi achar os limites e as portas d'aquelle inferno.

No inferno dos scandinavos, chamado Nifleim, não ha fogo. Essas antigas nações do norte gostam tanto de calor, que não poderam consideral-o um supplicio; pelo que o seu inferno é de neve, onde ha o tiritar, a fome, a febre, a velhice tremente, as torrentes glaciaes, as tempestades, o uivar dos lobos, o pavor que estaleja os dentes, e os cobardes, unicos condemnados que ahi vão.

Concluamos esta historia, que daria assumpto para um livro. As reflexões moraes que ella suscita vão breve ser applicadas na descripção do nosso proprio inferno, que na essencia não se distingue dos infernos pagãos. Porém, sendo elle procedente do inferno judaico, paremos diante d'este.