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O INFERNO

mesmo ferro lhes abrasa os corpos e a mesma febre lhes alanceia as almas.

Ahi está o inferno espiritual.

VI

Da immortalidade das penas espirituais do inferno.
 

É pois o inferno um máo logar, trescalando ao vicio e ao crime. Os demonios, guardas d'este máo logar, e professos na corrupção, usam do imperio que sobre os hospedes lhes é permittido, corrompendo-os incessantemente e sem lucta nem obstaculo.

É propriedade d'elles a alma dos condemnados. Deus, entregando-lh'a para que elles façam d'ella o que poderem, não lh'a disputa e bastantemente sabe o que elles farão.

Se as adições espirituaes dos condemnados fossem sómente crueis, seria isso bastante para nos auctorisar a duvidar da eternidade d'ellas; mas, além de crueis, impuras, é um direito, é até um dever negal-as. É certo que a natureza algumas vezes inflige ao homem esses impuros soffrimentos; mas são transitorios: uns morrem, alguns curam-se, e outros endoidecem: é outro genero de morte. Mas no inferno os furores sensuaes, os appetites phreneticos não matam nem remedeiam, não são venenos nem balsamos, são penas sem fructo e sem fim.