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O INFERNO

dos evangelhos, ás multidões que não sabiam ler. Quando essas prégações começaram a correr escriptas, os evangelhos eram aos cardumes; appareceram logo cincoenta attribuidos aos apostolos e aos discipulos de Jesus.

Quem se entenderia n'este cháos? Quem poderia decidir que o evangelho de Thiago não era de Thiago, e que o evangelho de João era de João? Quem poderia discriminar entre o verdadeiro e o falso? Entre o de Deus e o dos homens? Quem poderia discernir e acreditar a boa copia entre as copias falsificadas de João? A coisa não era de si tão luminosa que podessemos aceital-a hoje em dia.

No quarto seculo, bem perto dos tempos apostolicos, esta questão enleava gravissimos doutores, um dos quaes, testemunha de taes incertezas, Santo Agostinho, dizia que elle sem o testemunho da Egreja não prestaria fé ao verdadeiro evangelho. Não achava elle portanto nos escriptos de João, de Lucas, de Marcos, de Matheus e de Paulo a prova intrinseca da sua divindade; com mais forte razão não acharia a mesma prova intrinseca nos escriptos de Moysés, de Samuel, de Esdras e outros prophetas.

Se eu não debilitei, resumindo-as, as razões com que os catholicos intentam reconduzir ao seu gremio as seitas dissidentes, expuz tudo o que tinha a expor sobre a primeira prova mystica do inferno, extrahida das Escripturas. Passemos á segunda prova que é o testemunho da Egreja.