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O INFERNO

mundo, já a da razão, já a dos livros sagrados, sóme-se absorvida na soberana auctoridade d'ella.

Esta segunda prova do inferno é de natureza analoga á primeira: é mysterio. Exponho-o sem o discutir. Mas os protestantes discutem-no; negam-o, reprovam-o em nome dos prophetas e dos apostolos, e milhares e centenas de milhares d'elles affrontariam a fome, o frio, a penuria, o exilio, os carceres, a tortura ordinaria e extraordinaria, o poder de Cezar e toda a casta de supplicios, com o denodo dos primitivos martyres, antes de vergar o joelho ante a Egreja — o que elles qualificariam de idolatria. Não posso abster-me de relatar algumas de suas objecções, as quaes, bem que sejam forçadas sobrenaturalmente com versiculos do Apocalypse ou das Visões de Isaias, nem por isso me parecem menos debeis.

Temos, dizem, um facil meio de nos certificarmos da infallibilidade da Egreja. Perguntai-lhe o que deve fazer-se em frequentes circumstancias da vida, quando os mais doutos homens se bandeam em dous ou tres arraiaes, dizendo uns: deve fazer-se isto; não, — dizem outros — isso é pessimo — ; e os terceiros sustentam que não se deve fazer nada, ainda que a inacção pareça aos outros criminosa. Pelo facto de nos prohibirem actos manifestamente culposos aos olhos da razão, já prohibidos por lei natural, pelo decalogo e pelos philosophos, isso não convence que possuam luzes milagrosas para regerem almas. O que queremos é que nos guiem no lance em que os outros