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O INFERNO

esperança d'um beneficio adequado ao serviço que presta e aos perigos que corre. Os que nada tem caíriam, por conseguinte, em mais apertada dependencia dos que tem tudo profusamente. Nas modernas sociedades, similhante preceito multiplicaria os invejosos, multiplicando os avarentos. Feriria de esterilidade o campo da viuva, estagnaria o movimento da industria e commercio, e, pelo tanto, o desenvolvimento da riqueza e vantagens moraes que ella proporciona. O emprestimo a juro é logo geralmente admittido como justo e fertil em toda a especie de prosperos resultados. Mas surdem para logo novos obstaculos. Deve-se limitar a taxa do juro que o devedor pede ao crédor? Como se hão de avaliar os prejuizos do devedor, e os lucros conjecturaes do crédor? Ha nada mais hypothetico e variavel! Que differença entre a qualidade e os productos de duas terras convisinhas, entre tal e tal mister, entre a capacidade d'este e a d'aquelle! O juro legal, ás vezes pequenissimo, casos haverá em que seja pezado; mas, como é legal, pezará com todo seu pezo sobre os que menos lh'o podem supportar. Será elle até motivo a encarecerem os generos, e redundará em incommodo e vexame. Tal é, quando menos, a opinião de celeberrimos philosophos.

Mas deve-se, como elles querem, deixar livre plenamente a vontade dos contrahentes?

Cuidar-se-ha que tudo isto é mera questão de economia politica: não é verdade. Aqui, mais que tudo,