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O INFERNO
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Satanaz vencido, os peccadores resgatados, o céo aberto aos que oram, aos que choram, aos que soffrem. Para estes exclusivamente é que seu sangue aspergiu o chão do calvario. Jesus não dispensa da penitencia os que morreram culpados; mas dá-lhes a esperança que as antigas crenças deixavam luzir na terra sómente, e apagavam no tumulo.

Sei de sobra que os theologos querem que o inferno, visitado por Christo, não seja o verdadeiro inferno; mas sim o limbo, o purgatorio, os seis primeiros circulos da Géhenna, e não o ultimo. Esta distincção, porém, não está no Credo. O inferno ahi diz-se com todas as letras, e, mais pelo claro, os infernos, como quem indistinctamente diz todos os logares de soffrimento onde podem penar os mortos.

«Desceu aos infernos, diz o Credo, e ao terceiro dia resurgiu dos mortos.»

Quem eram esses mortos com quem Jesus passou trez dias? A interpretação natural é — todos os homens que, desde o principio do mundo, haviam desparecido de sobre a terra; não só patriarchas e prophetas, senão todos os judeus; não só todos os judeus, mas todos os gentios. Eis aqui, entendidas ao natural, o que dizem as palavras: «Desceu aos infernos, e habitou trez dias com os mortos.» Quereis dar áquellas