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O INFERNO

palavras uma accepção espiritual? Temos ainda mais. luz na questão. Os mortos espirituaes são os condemnados, os que eram considerados em perpetua privação dos resplendores eternos. Não são os prophetas, os patriarchas, os eleitos, os santos, nem ainda alguns d'esses que por peccados haviam merecido as penas temporarias, por que não estavam espiritualmente mas só carnalmente mortos, crendo, esperando, amando, vivendo. Seja qual for a interpretação adoptada, leva-nos a concluir o inverso do que os theologos affirmam. Do citado trecho do Credo colhe-se que Jesus desceu, não só ao limbo, mas tambem ao inferno, não só aos patriarchas que esperavam sua vinda, — explicação acanhada e violenta dos hebreus conversos e dos christãos judaisantes — mas aos mortos de todos os tempos e paizes, aos peccadores que a lei antiga e antigas crenças haviam ferido de morte espiritual, eterna, incuravel, da verdadeira morte. O Redemptor, o Crucificado, o Messias visitou-os, mostrou-se-lhes, e elles rejubilaram ao verem-no e choraram lagrimas d'amor d'aquelles olhos aridos. Jesus não destruiu o inferno; converteu-o em purgatorio. Do inferno judaico e gentilico fez o inferno christão, inferno que corrige, inferno onde ha o chorar sem blasphemar, onde ha o soffrer sem desesperança nem rancores.

Outras luzes póde dar o symbolo dos apostolos ás almas piedosas. Mais abaixo, diz: «Creio na vida eterna» mas não diz: «Creio na morte eterna.» Este horrivel dogma não se lê no credo apostolico. Se ahi se