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O INFERNO
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de provar que elle era ruim logico; declararam-o herege, que era mais summario, e por contagem de votos.

É muito para notar que o primeiro concilio ecumenico de Nicea, anno 325, e o segundo de Constantinopla, anno 381, se abstivessem de decidir sobre a doutrina de Origenes, ainda nova e florecentissima, e á conta d'isso mais funesta, se por ventura escondesse perigo. Divergiam sobre o assumpto as opiniões dos padres d'aquelle tempo? Recusariam não se conciliarem? A questão confundil-os-hia? Inclino-me a crer que sim. O mais notavel documento que os dois concilios nos deixaram, denota indecisão de natureza a um tempo estranha e evidentissima: é uma profissão de fé muito particularisada, a mesma que hoje se entôa aos domingos na missa cantada nas egrejas do oriente e occidente.

O concilio de Nicea, ao redigir o symbolo da sua fé, desenvolveu em certos pontos o symbolo dos apostolos; mas, quanto ao mais, abreviou aquelle antigo symbolo, e o que mais espanta é a suppressão completa do descendimento aos infernos.

O concilio de Constantinopla, adoptando o symbolo de Nicea, aperfeiçoou-o, e additou-lhe alguns artigos, mas não lhe repoz a descida aos infernos.

Que quer dizer esta eliminação? Desceu ou não desceu Christo aos infernos? Se desceu, por que o não dizem? Acham que é insignificante o caso? Não merecerá a pena relembral-o?