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O INFERNO
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moralidade, inutil ao culpado, ás testemunhas e ao juiz; — um acto de colera, de odio e furor — um feito sombrio e sinistro como transportes de demencia incuravel. Digo que tal crença é mal cimentada, e assim funesta em este mundo, como odiosa no outro; que nem o mal nem o castigo são eternos; que eterno é só o bem, a omnipotencia, a bondade, a justiça e misericordia de Deus, e que estas coisas, que separais, são inseparaveis em Deus. Digo, conforme a S. Paulo, que ceo e terra hão de passar; que a fé ha de passar tambem, e tambem ha de passar a Esperança, e que tudo ha de acabar, salvante a Caridade.

Que vos parece isto? que redarguís? Ser-vos-ha mister mudar a propriedade das palavras, crear linguagem nova, dirimir as leis da razão, e cuidar em extinguir tanto em vós como nos outros as vivas luzes da consciencia, se quereis impugnar estas proposições.

IV

Mas ninguem póde desluzir de seu espirito o reflexo que ahi lampeja a verdadeira luz, se uma vez a entre-viu. Quando houverdes lido este livro, ser-vos-ha aprasivel fechar os olhos, e injuriar-me; não obstante, sentir-vos-heis alumiados, crentes na verdade a vosso pezar; e, embora o negueis, é a vós mesmos que mentis. Negal-o-heis com a bôcca; mas não com a consciencia.